N'O Perú Molhado desta semana o prefeitável Chiquinho da Educação deu uma longa entrevista que procuraremos discutir aqui. Não gostaria de estar na pele do meu amigo Sandro Peixoto que assina o texto introdutório. Pior do que qualificar Francisco Carlos Fernandes Ribeiro como "mito" e "fenômeno", é usar uma dialética toda especial para provar que Chiquinho será assimilado pelo povo buziano assim como este assimilou a cultura dos turistas que por aqui aportaram. Menos Sandro, menos. Sei que para sobreviver como jornalista em Búzios há que se ter muito jogo de cintura, mas não precisa tanto. O articulista não ficaria nada bem se confrontássemos os artigos do jornal de 2007 com esta introdução. Para quem não se lembra, na ocasião, o prefeitável era chamado depreciativamente de Chiquinho do Atacadão, apesar de já usar a nova marca "Chiquinho da Educação". A Araruama que ele governava, segundo o jornal, era cheia de favelas e tinha uma educação de péssima qualidade. Na época, o Perú estava de braços dados com Toninho. O Perú é assim. Em cada eleição com um, com aquele que lhe oferecer os melhores agrados. É a cara da sociedade buziana: irreverente e volúvel. É por isso que nós irresponsavelmente o amamos. Não amaríamos, de jeito nenhum, se por ventura existisse em Búzios, um jornal triste, cheio de mágoas, de mal com a vida, ranzinza, que apoiasse o desgoverno existente e cujo dono fosse um doido varrido.
Como a entrevista é longa, vamos dividi-la em duas partes. Na primeira abordarei os temas: 1) Nativos versus "os de fora"; 2) o modo de governar; 3) o modo de fazer política. Na segunda: 4) a administração em Araruama; 5) a educação; e concluo perguntando se 6) a história se repetirá.
1) Nativos versus "os de fora"
Chiquinho começa mal a entrevista quando afirma que "os brasileiros e, principalmente, os buzianos não respeitam a cidade. As pessoas de fora respeitam mais Búzios que os moradores locais". Generalizações deste tipo foram criadas pelos inhos para dividir a cidade. São também pouco inteligentes. Têm nativos, brasileiros e gente de fora que não respeitam a cidade. Têm estrangeiros que adoram construir ilegalmente em topos de morro e costões rochosos, o que é proibido na terra deles. Que fique claro que isso também é desamor pela cidade.
2) Modo de governar
Nesta questão Chiquinho faz um diagnóstico corretíssimo das administrações Mirinho. Realmente, ele nunca teve um projeto de cidade. Em suas administrações nunca fez um planejamento de longo prazo. Seus secretários de planejamento sempre cuidaram só de urbanismo e licenciamento de obras. Hoje, o seu incompetente chefe de planejamento e orçamento, que também nada planeja, nem de urbanismo entende.
É verdade que Mirinho pratica na cidade uma política arcaica, de grupinhos, a mesma velha política de José Bonifácio em Cabo Frio há 16 anos atrás. Política que Mirinho trouxe para Búzios. A política do apadrinhamento, da falta de projetos para a cidade, política de “arrasa quarteirão” que está levando Búzios à “desgraça”.
"Um projeto de poder pensado para sufocar a sociedade, para impedir qualquer oportunidade de crescimento econômico e deixar o povo na mediocridade, refém de uma cesta básica ou de um empreguinho na prefeitura". Chiquinho cita o caso das crianças da periferia que precisam se deslocar até o Centro para estudarem no 2º segmento (6 º ao 9º ano), em uma cidade onde não existe transporte coletivo seguro. Concordando com ele, cito o caso das creches que absurdamente só funcionam até as 16h00min. "Isso é proposital. É diabólico e foi implementado em nossa cidade pelo senhor Mirinho Braga. Foi Mirinho quem implementou essa desgraça". Esse projeto de poder chegou mesmo a partir a cidade em duas com a construção do Pórtico: a cidade de dentro e a cidade de fora. Nesta, ficam os miseráveis que a gestão Mirinho produziu e que continua produzindo. A assertiva é confirmada porque só temos escolas de ensino médio do Pórtico pra dentro.
Concordamos com este diagnóstico da administração Mirinho, mas não podemos falar o mesmo da sua proposta para a cidade de Búzios. Chiquinho nada fala de Orçamento Participativo. Em nenhum momento se refere às entidades civis organizadas da cidade. Diz que em Araruama ouvia Dorinha (que servia café), Regiane Silva (mulher simples, negra e funcionária) e Soca de Búzios que o fez criar o projeto casa-língua. Tudo muito bonito, muito bom para eles, ótimo para o marketing, mas não representativo da sociedade. Não é a toa que Rio das Ostras está se destacando em quase todas as áreas (educação, saúde, eventos, etc.): é a única cidade da Região das Baixadas Litorâneas que tem orçamento participativo.
Quando afirma que a cidade precisa definir o que ela é, mostra que não conhece nada de nosso Plano Diretor, elaborado com ampla participação popular. Por sinal, Toninho não deu a mínima para o PD, assim como Mirinho não está dando. Lá está bem definido que o que se quer é "transformar Armação dos Búzios em uma cidade-referência da preservação do meio ambiente" (artigo 14). Todas as atividades econômicas do município devem se submeter aos princípios do desenvolvimento sustentável. Isso é Lei!
Chiquinho cai no mesmo erro dos inhos desgovernados ao considerar o turismo como única atividade econômica do município. Hoje, está claro que uma cidade com quase 30 mil habitantes não consegue gerar trabalho e renda para todos só com o turismo. É preciso se criar um modelo alternativo ao modelo de desenvolvimento insustentável posto em prática pelos governos dos inhos, baseado no tripé turismo predatório, construção civil e royalties. Mauro Temer já falava isso em 2003! Uma alternativa seria a criação de uma Zona Especial de Negócios, tipo a de Rio das Ostras, mas do porte da cidade, para atrair empresas não-poluentes para o município. O Plano Diretor fala em indústrias de confecção, de produtos para esportes náuticos, artesanato, etc.
3) O modo de fazer política
Malandramente, no bom sentido, Chiquinho diz não ser político. Concordo com ele que "90% dos políticos são canalhas, são corruptos". Naturalmente, ele se enquadra nos 10%. Claro, com o desgaste que a atividade tem no país, é muito bom, para o marketing, não se apresentar como um político. Chiquinho diz ser gestor. Mas, para ser honesto, tem que dizer que é um gestor apoiado por Paulo Melo- um político bem tradicional- e seus seguidores em Búzios. É querer tapar o sol com a peneira, ou nos considerar um bando de idiotas, afirmar que Paulo Melo pediu que seus correligionários em Búzios apoiassem Chiquinho porque ele tem um projeto de cidade. Paulo Melo preocupado com a cidade de Búzios? É demais! É o mesmo que dizer que Picciani está apoiando Mirinho porque está preocupado com o bem de Búzios. Ninguém agüenta!
Chiquinho também não engana ninguém ao tentar colocar toda a culpa em Toninho pelo seu desastroso governo. O senhor Nani, Salviano e Otavinho são tão ou mais responsáveis que Toninho pelo desastre ocorrido, porque escolarizados. Qualquer candidato que conheça os altos índices de rejeição que eles têm, deveria escondê-los. Mirinho, se conseguir ser candidato, deve fazer o mesmo com o seu Ruy Borba, certamente uma das pessoas mais rejeitadas da cidade. Otavinho pode ter sido muito bom para a cidade nos seus primórdios com a lei dos dois andares. Mas no governo Toninho nada mais fez do que defender seus interesses particulares e de seus amigos.
Como diz não ser político, consequentemente afirma também que nunca fez campanha com grupos politicos. E que nenhum empresário colocou um centavo na sua campanha. Se isso é verdade, a sua prestação de contas à justiça eleitoral é mentirosa. Lá está que MEDALHA DE OURO ATACADO DE CEREAIS LTDA doou quase R$ 100.000,00 dos RS 218.908,00 gastos na campanha de 2004. Outras empresas que fizeram doações: INTERSIGN PRODUTOS E SERVIÇOS LTDA, J. GUAYBA COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, DOTTORI & SÁ BARRETO ATELIER DE ARTE E SERIGRAFIA LTDA, MALYZIA CONFECÇÕES E COM. DE ROUPAS LTDA.-ME, L.C.S. DA CUNHA & CIA LTDA, AUTO POSTO PONTOCOM LTDA, GUIMARÃES, GARCIA E CIA LTDA. (Fonte: TSE).
Ver: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8887
Visitem meu outro blog: "Iniciativa Popular Buzios"
Ver: "Chiquinho n'O Perú 2"
Comentários:
- Gostei da análise crítica do blog, e acrescentaria também o aparte feito pela Sra. Maria Elvira que na entrevista do Peru, sinalizou para o perigo contido no discurso do Chiquinho do Atacadão, quando vangloria-se de ter apenas o primeiro grau completo.