O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) é o principal indicador de corrupção no setor público do mundo. Produzido desde 1995 pela Transparência Internacional, o IPC avalia 180 países e territórios e os avalia em uma escala na qual o país é percebido como altamente corrupto e 100 significa que o país é percebido como muito íntegro.
Brasil: pior nota pelo segundo ano
Em 2019, o país manteve-se no pior patamar da
série histórica do Índice de Percepção da Corrupção, com
apenas 35 pontos. Os 35 pontos da nota brasileira equivalem ao
valor mais baixo desde 2012 — ano em que o índice passou por
alteração metodológica e passou a permitir a leitura em série
histórica. A escala do IPC vai de 0 a 100, na qual 0 significa que o país é
percebido como altamente corrupto e 100 significa que o país é
percebido como muito íntegro. Com esse resultado, o Brasil caiu mais uma posição
no ranking de 180 países e territórios, para o 106º lugar.
Este 5º recuo seguido na comparação anual fez com que o país
também atingisse sua pior colocação na série histórica do
índice. Em 2018, o país já havia perdido.
Os 10 países menos corruptos:
Os 10 países menos corruptos:
1º) 87 Dinamarca
1º) 87 Nova Zelândia
3º) 86 Finlândia
4º) 85 Singapura
5º) 85 Suécia
6º) 85 Suíça
7º) 84 Noruega
8º) 82 Holanda
9º) 80 Alemanha
10º) 80 Luxemburgo
Os 10 países mais corruptos:
180º) 9 Somália
179º) 12 Sudão do Sul
178º) 13 Síria
177º) 15 Iêmen
173º) 16 Venezuela
173º) 16 Sudão
173º) 16 Guiné Equatorial
173º) 16 Afeganistão
172º) 17 Coreia do Norte
168º) 18 Líbia
168º) 18 Haiti
168º) 18 Guiné-Bissau
POR QUE ESTAGNAMOS?
Em 2018, o Brasil saiu das eleições com resultados claramente
influenciados por essa pauta. O elevado índice de renovação
política se deu com a vitória de candidatos que tinham baseado suas
campanhas em fortes discursos anticorrupção. O país, no entanto, atravessou 2019 sem conseguir aprovar
reformas que atacassem de fato as raízes do problema. Poucos avanços e retrocessos em série aconteceram no
arcabouço legal e institucional anticorrupção do país.
No
último ano, por exemplo, uma decisão do presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) que praticamente paralisou, durante metade do
ano, o sistema de combate à lavagem de dinheiro do Brasil. Viu-se ainda um aumento das tentativas de interferência política
do Palácio do Planalto nos órgãos de controle, com substituições
polêmicas na Polícia Federal e Receita Federal e nomeação de um
Procurador-Geral da República fora da lista tríplice. No Congresso
Nacional, foram aprovadas leis na contramão do combate à corrupção,
como, por exemplo, a que criou mecanismos que enfraqueceram ainda
mais a transparência de partidos e o controle do gasto público em
campanhas eleitorais. O cenário só não foi menos desolador graças à forte
reação da sociedade e das instituições brasileiras que
conseguiram barrar alguns retrocessos significativos e garantir
alguns avanços. No entanto, o país atravessou 2019 sem conseguir
aprovar reformas que atacassem de fato as raízes do problema.
COMO AVANÇAR?
Para que o Brasil efetivamente avance no combate à corrupção e
alcance melhores resultados no IPC, é prioritário a implementação
de reformas que ataquem as causas estruturais do problema.
Congresso Nacional deve deliberar e aprovar
reformas estruturais anticorrupção baseadas no pacote de medidas
elaboradas por especialistas brasileiros: as “Novas
Medidas contra a Corrupção”.
O Poder Judiciário e o Ministério Público
devem agir frente à sua ineficiência administrativa; à falta de
responsabilização de seus membros por mau desempenho e corrupção;
e aos privilégios, como férias abusivas e remunerações
exorbitantes, que resultam na prestação jurisdicional ineficiente,
morosa e seletiva.
A Justiça Eleitoral e os órgãos de controle
devem atuar em coordenação nas eleições municipais de 2020 contra
o financiamento ilícito de campanhas e o desvio de fundos públicos
sob controle dos partidos, incluindo a utilização de candidatas
laranjas e novas modalidades de manipulação virtual, como uso de
robôs e disseminação de fakenews.
O governo federal deve afastar seus membros
investigados por corrupção, além de propor e defender a aprovação
junto ao Congresso Nacional de reformas estruturais anticorrupção.
Deve respeitar integralmente as liberdades constitucionais de
expressão e associativismo, abstendo-se de hostilizar profissionais
da imprensa e de organizações da sociedade civil.
Os governos estaduais e municipais devem
aprimorar sua engenharia institucional de controle, atualizar seus
marcos legais anticorrupção e promover Programas de Integridade que
fortaleçam o enfrentamento da corrupção nos níveis subnacionais.
O setor privado deve promover ações coletivas
para o estabelecimento de códigos de conduta setoriais, pactos de
integridade, inserção de valores éticos nos processos de
capacitação de mão-de-obra e fomento ao compliance nas cadeias de
suprimento, incluindo pequenas e médias empresas. Deve também
exercer a liderança das federações de indústria e comércio e
outras associações empresariais para a promoção de melhores
práticas de integridade pública e privada.
A sociedade brasileira deve exercer
conscientemente seu direito de voto nas eleições municipais de 2020
para eleger candidatos com passado limpo, compromisso com a pauta
anticorrupção e respeito aos valores democráticos, pressionando
também os partidos para que incrementem sua transparência,
governança e democracia interna.