Sede da Odebrecht, SP, foto O globo |
Cinco vezes em que as empreiteiras da Lava Jato compraram sindicalistas
Não
é raro que dirigentes sindicais acabem enriquecendo ao longo da sua
carreira. Em um único
caso investigado
pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, o Sindicato dos
Empregados no Comércio de Niterói e São Gonçalo rendia R$ 1
milhão/mês para sua presidente.
Desviar
dinheiro do trabalhador não foi o único meio que sindicalistas
encontraram para o enriquecimento fácil. Chantagear empresas com
movimentos grevistas e receber para encerrá-los parece ter sido uma
prática mais comum do que se suspeitava. Como as cinco vezes em que
as empreiteiras envolvidas na Lava Jato mandaram em sindicalistas
comprovam:
1. Lula: Polo Petroquímico de Camaçari
Em
1985, Emílio Odebrecht estava encurralado. A
empreiteira que leva o seu nome começava a perfurar poços no Polo
Petroquímico de Camaçari, na Bahia, quando foi abatida por uma
greve.
Diferentemente
do usual, o movimento não
contava com
o apoio do sindicato, tornando tudo mais difícil. Sem uma liderança
clara com quem negociar, o diálogo com os grevistas estava se
provando impossível.
Atirando
para todos os lados, Odebrecht pediu ajuda ao então prefeito MDBista
de São Paulo Mário Covas. Este teria ido em seu auxílio com uma
pergunta: “Você conhece Lula?”
Em
sua delação,
o patriarca da família Odebrecht afirma que o encontro com o líder
sindical foi marcado na casa de Covas. Um almoço que começou ao
meio-dia e durou até nove horas da noite. De acordo com Emílio, a
empatia instantânea entre ambos foi o início de uma parceria que
duraria décadas.
Após
a aproximação, Lula o teria ajudado a lidar com o movimento
paredista e criou condições para que a Odebrecht tivesse uma
“relação diferenciada com o sindicato na área petroquímica em
particular”. Em troca, a construtora apoiou a candidatura de Lula
ainda em 1989, impondo a condição de que o candidato do PT
controlasse o seu partido e não estatizasse o setor petroquímico.
A
sociedade também atuou em 2002. Com o setor empresarial e financeiro
ainda temendo Lula, Emílio Odebrecht organizou encontros e jantares
para reduzir a desconfiança contra a candidatura.
Com
o fim do período de Lula na presidência, a Odebrecht continuou
cuidando da vida do ex-presidente e dos seus parentes. De acordo
com Marcelo
Odebrecht,
Lula teria uma conta de R$35 milhões para atender seus pedidos junto
à empreiteira. Além disso, a Odebrecht pagou uma
mesada para o irmão do ex-presidente, contratou a empresa do seu
sobrinho – até então um vidraceiro – para realizar grandes
obras em Angola e deu suporte financeiro para que o projeto de Luís
Cláudio (filha caçula de Lula) de criar uma liga de futebol
americano no Brasil saísse do papel.
2.
CUT: Usina de Santo Antônio
Como
parte integrante do
consórcio que ergueu a Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira,
a Odebrecht receava
que manifestações, greves e atos de sabotagem pudessem atrapalhar o
andamento das obras. Ainda mais com o histórico da
região.
A
solução veio fácil. De acordo com o delator Henrique
Valladares,
os 25 mil operários da usina atraíram rapidamente a presença de
sindicatos. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) teria sido a
primeira a se estabelecer na região e arregimentar apoio.
Não
é de se estranhar que tenham chegado tão rápido. Central sindical
em atividademais
antiga do
Brasil, a CUT também é a entidade com mais filiados e ramificações
por todo o território brasileiro.
Como
se isso não fosse suficiente, o dinheiro para a central ligada ao PT
financiar suas atividades parece infinito. Além das dezenas de
milhões de reais do imposto
sindical,
a central também conta com financiamento da Fundação
Ford e
usualmente recebeu o
patrocínio de estatais nos últimos anos. A relação com as
empresas do governo era tão profunda que Vagner Freitas, presidente
da CUT, recebia para participar das
reuniões do conselho do BNDES.
Com
tantas fontes de renda, a CUT pareceu não ter problemas em ter mais
uma e fez a Odebrecht pagar pedágios mensais aos seus dirigentes em
Rondônia. A ideia, nas palavras de Valladares, era que os
sindicalistas não “apoiassem greves, atos de violência, esse tipo
de coisa”.
A
construtora também teria feito pagamentos regulares aos diretores do
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do
Estado de Rondônia. Em troca, eles não estimulariam os
trabalhadores a praticar atos de vandalismo no período de
negociações coletivas.
3
e 4. Paulinho da Força (SD-SP): Embraport e a Hidrelétrica São
Manoel
Paulo
Pereira da Silva é uma das grandes lideranças do atual sindicalismo
brasileiro. Presidente da Força
Sindical há
anos, Paulo carregou o nome da central que apoiou todos os governos
desde a redemocratização, inclusive Collor,
e se tornou o “Paulinho da Força”.
Apesar
de seus discursos supostamente em favor do trabalhador, Paulinho
parece ser um contumaz defensor de investigados na Lava
Jato. Ex-integrante da
tropa de choque de Eduardo Cunha na Conselho de Ética da Câmara,
Paulinho agiu mais de uma vez para defender as empreiteiras dos
trabalhadores.
Em
2013, um dos alvos dos protestos de estivadores e operários foi a
Empresa Brasileira de Terminais Portuário (Embraport), do grupo
Odebrecht, que chegou a ser invadida por 350 pessoas.
Assustados,
os executivos do grupo procuraram
Paulinho,
que pediu uma doação eleitoral, via caixa 2, de 1 milhão de reais!
Em troca, além da sua boa vontade, também utilizada para atenuar
movimentos na Refinaria de Abreu e Lima e nas usinas do Rio Madeira,
a Odebrecht recebeu uma tutoria de como lidar com movimentos
sindicais.
De
acordo com Alexandrino
Alencar,
ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, a construtora
também bancou os eventos de 1º de Maio organizados pela Força.
Sempre intencionando manter uma boa relação com o deputado.
Paulinho
também teria servido Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC.
Recebendo mais de R$ 1,6 milhão durante seis anos, o deputado e
dirigente sindical passou a trabalhar para resolver os imbróglios
trabalhistas de Pessoa.
Quando
os trabalhadores da Usina Hidrelétrica São Manoel, em Mato Grosso,
pareciam que iam causar problemas à sua construtora, o dono da UTC
ligou para Paulinho e pediu para ele resolver a situação. O
presidente da Força Sindical respondeu dizendo
que estava entrando no circuito para entender o que estava ocorrendo.
5.
Luiz Sérgio (PT-RJ) e Angra 3
Deputado
pelo PT há cinco legislaturas, Luiz Sérgio iniciou sua carreira
como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Angra dos Reis
(RJ). Foi prefeito da cidade em 1994 e desde 1998 é sucessivamente
eleito para uma vaga na Câmara Federal
Em
2014, o deputado fluminense recebeu uma doação de R$ 200 mil da
construtora UTC. Em sua delação
premiada,
Ricardo Pessoa afirma que, na verdade, a doação foi uma troca com
objetivo de evitar paralisações em um dos contratos mais
importantes da sua construtora: a montagem de equipamentos da usina
nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis.
Ivanildo
Terceiro