Muitos incêndios assolaram Búzios neste verão. Graças à impunidade e à inação de nossos gestores, a fauna e a flora buzianas estão definitivamente indo para o espaço. Desculpas e razões temos de sobra: seca, falta de hora extra, falta de viaturas, de efetivo, de hidrantes...mas o que falta mesmo é a vergonha na cara dos gestores em assumirem as suas responsabilidades, apurarem as causas e defenderem a nossa cidade.
A prefeitura e o Inea continuam a fazer vista grossa em relação aos incêndios e a impunidade continua correndo livre, leve e solta. Nenhum proprietário de terras ou grileiro é intimado ou investigado pela fiscalização municipal, nem pelo Inea, nem pelos Bombeiros.
Curioso é que, em sua maioria, os incêndios são curiosamente geométricos, como o que acometeu uma grande área na Marina em Búzios. O fogo ardeu e como foi mal debelado, resultou na permanência de vários focos de incêndio na área de turfa*¹. Toda a fauna terrestre do subsolo - capivaras, corujas, frangos d´água, tatus, preás, além de répteis e anfíbios - acabou morrendo com a queima da turfa. Após vinte dias, o fogo reacendeu no mesmo local com chamas altas e direito à equipe de bombeiros de Cabo Frio, prefeito de Búzios e cinzas que chegaram até o Condomínio dos Pássaros em Cabo Frio.
Na Praia Rasa, no morro próximo às falésias, a vegetação nativa está sendo desmatada e incendiada desdea sexta-feira de Carnaval até hoje. Nas fotos do post anterior tem-se a dimensão do crescimento vertiginoso da favelização na área relegada à terra de ninguém e que continua sem qualquer intervenção municipal de Cabo Frio ou Buzios.
A foto desatualizada (2014) do Google Earth mostra a vegetação nativa da Rasa ainda em pé.
Já no Centro, bem atrás da Prefeitura, quatro quadras foram incendiadas. A área - muito desejada pela especulação imobiliária - virou um verdadeiro lixão à céu aberto e vem sendo desmatada. A lenha seca é disposta em feixes para arder como fogueira de São João, assim como o lixo. Cavalos pastam no capim que nasce após as queimadas. A vegetação da APA arde? Será que propositalmente ?
Definitivamente, a seca aqui é um mero estopim, mas as reais intenções são as piores possíveis. Em conversas com brigadistas, guarda-parques e bombeiros, constatamos 3 tipos de fogo :
1 - Fogo para caçar animais silvestres: Cabo Frio, Fazenda Campos Novos, Fazenda Botafogo.
2 - Fogo para especulação imobiliária: Iguaba, Búzios e seus Loteamentos urbanos (quadras atrás da prefeitura em direção à Foca e ao Forno, Geribá, Alto de Búzios, José Gonçalves, Marina, Capão, Rasa - terra de ninguém).
3 - Fogo para limpeza de terreno: São Pedro da Aldeia, Búzios (Mangue de Pedra, Cem Braças, José Gonçalves).
Empresários, caçadores e moradores que desrespeitam as leis, misturam-se no mesmo saco nesta prática criminosa.
Impotentes, nós, povo, continuamos assistindo ao espetáculo incendiário na cidade e temos apenas 3 alternativas durante um incêndio:
1 – Ligar 193 para chamar os bombeiros e ouvir a lacônica pergunta : “Está pegando fogo na sua casa?” Se você responder que o incêndio está próximo ou mesmo no terreno ao lado de sua casa, a resposta será: “Lamento, não podemos atender a esta ocorrência”. Os Bombeiros simplesmente negam fogo, perdoem-me o ato falho, negam água.
2 - Ligar para a secretaria de meio ambiente, o funcionário que atende não se identifica e os fiscais nunca estão de serviço.
3 – Ligar para o INEA, aí temos que rezar para que o incêndio seja próximo aos limites do Parque Costa do Sol, senão lascou.
No dia do incêndio do Mangue de Pedra, 23 de janeiro, a Superintendente do Inea Regional Lagos-São João, Marcia Simões, afirmou ao telefone que o Mangue de Pedra não era uma unidade de conservação e tampouco estava incluído no PECSOL e por esta razão, não poderia enviar guarda-parques para debelarem o incêndio e que a competência era dos Bombeiros. Pobre superintendente esqueceu ou não sabe que APPs (restinga, mangue, costões) são atribuição do Inea.
Mesmo assim, Búzios assistiu a algo inusitado neste verão. Durante o fogo no Mangue de Pedra, alguns cidadãos - cansados da ineficiência da gestão pública no combate aos incêndios - decidiram agir. A ferramenta principal foi a rede social usada para divulgar, postar fotos, convocar voluntários e denunciar os incêndios. Além da rede, os cidadãos uniram-se à equipe de brigadistas coordenada por Leonardo Sandre e juntos, os voluntários, combateram o fogo ao redordo Mangue de Pedra, em 23 de janeiro.
Da união dos voluntários com os Guarda-Parques e com os Guarda Marítimos Ambientais surgiu o Projeto de montar uma Brigada Prev Fogo/Ibama intermunicipal. A ideia principal é que cada cidade da Região dos Lagos tenha um núcleo de combatentes do fogo florestal. Se um incêndio ficar fora de controle, os parceiros, voluntários e vizinhos habilitados são imediatamente convocados.
A primeira oficina de capacitação de brigadistas será em Búzios depois do verão, sem data definida e será aberta aos funcionários públicos e a toda comunidade.
PERGUNTAS QUE NÃO CALAM:
c. Em quantos incêndios florestais, os Bombeiros, a Prefeitura e o Inea estavam presentes ?
d. Quantos incêndios foram debelados por brigadistas ?
e. Qual a ação preventiva a ser adotada pela prefeitura no próximo ano?
f. Cadê o Conselho de Meio Ambiente de Armação dos Búzios?
*¹ - A turfa é um material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado em regiões pantanosas e brejosas. Forma um solo rico em matéria orgânica que pega fogo muito fácil. A camada da turfa pode ter mais de um metro de profundidade e centenas de focos de calor, o que dificulta o controle do incêndio interno. Toda a fauna terrestre do subsolo acaba morrendo com a queima da turfa, e há riscos de propagação do fogo para áreas maiores de vegetação.
Alexsander Roberto