Isac Tillinger, foto do perfil no Twitter |
"Antes
que alguém com pressa de fazer meu obituário escreva qualquer
coisa, enchendo o espaço com sentimentalismo barato, prefiro eu
mesmo fazer o meu, por mais absurdo que isto pareça. Aliás, comigo
nada é absurdo, tudo é absolutamente normal, dentro dos meus
conceitos, obviamente. Nada daquele papo de “coitadinho era uma boa
pessoa” ou “era tão moço”, até porque faz muito tempo que
deixei de ser boa pessoa e não sou tão moço assim. Tem que ser um
necrológico sincero, porque de que vale a vaidade depois de morrer –
só a vaidade de estar morto.
Não fui um bom filho, o que não quer
dizer que os meus pais seriam melhores filhos se eu fosse o pai. Bom
marido não fui, bom, também com as mulheres que vivi não me deram
esta oportunidade. Nunca roubei – salvo algumas miudezas em lojas
de departamento (afortunadamente o alarme nunca tocou), nunca menti
conscientemente, aliás considero este um dos meus grandes defeitos.Sacanear os amigos sempre foi meu esporte preferido, mas tive a sorte
de mesmo assim continuar a tê-los como amigos. Egoísta fui a vida
toda, como todos, porem tratei de nunca revelar a ninguém, como
todos.
Jamais amei ao próximo como a mim mesmo, em contra partida
nunca ninguém me amou como eu mesmo. Fui covarde e fui valente, a
única pessoa a que tive medo foi a mim mesmo, isso prova a minha
valentia. Nunca tomei nada de ninguém, mas vou deixar tudo que não
tenho para os têm menos que eu. Nunca cobicei a mulher do próximo,
só a do afastado. Nunca tive inimigos, apenas desafetos, mesmo as
aves de rapina travestidas de pássaros silvestres não foram
classificadas como tal, afinal como filho de psiquiatras conheço bem
as mentes psicopatas. Preocupei-me mais com meus desafetos que com
meus amigos, afinal os amigos nem sempre se preocupam com a gente.
Defendi minha vida do meu jeito, mas jamais a arrisquei para
defendê-la. Dinheiro nunca foi uma preocupação, pois nunca tive
nada. Segredos nunca tive, como jornalista passei todos adiante.
Sempre fui ateu, mas confesso que nos últimos tempos estava
acreditando em tudo, a proximidade da morte faz isso. Conquistei
varias mulheres, poucas com o coração, algumas com a lábia e
muitas com o jornal. Sempre tive pavor a médicos, eles sempre
descobrem enfermidades que nunca imaginávamos ter.
Um orgulho é ter
vivido 120 anos em apenas sessenta: finalmente livrei-me desta
maldita insônia. Tive a fortuna de ter dois amores incondicionais:
minha mãe e minha filha, de que levo comigo um pedaço do seu corpo
e todo seu coração. Desligo, acabaram os creditos".
MINHA LAPIDE:
"Fui, mas a Eva continua na redação aguardando seu anuncio".
Observação:
Observação:
O texto acima foi surrupiado do perfil do Facebook de Hamber Carvalho. Ele recomenda que as pessoas, antes de qualquer comentário sobre o falecimento de Isac Tillinger, leiam este obituário escrito pelo próprio em 6 de setembro de 2014.
Comentários no Facebook:
Luiz Carlos Gomes Clarice, acho que você tem razão. O Hamber me induziu ao erro. No final do texto ele fala do pedaço da filha que ele leva consigo, referindo-se ao transplante que fez antes de morrer.
Comentários no Facebook:
Comments
ERRATA
O obituário publicado neste post "Obituário de Isac Tillinger, por ele mesmo" não era do Isac Tillinger. Uma leitora atenta - Clarice Terzi- me alertou do erro. Eva, filha de Marcelo Lartigue, confirmou que o texto era realmente de seu pai. Ele, e não Isac, era filho de psiquiatras. E mais: Isac não tinha filha.
Fui induzido a erro por este comentário de Hamber Carvalho em seu perfil do Facebook antes da publicação do obituário: "Antes de comentar sobre o falecimento de Isac Tillinger, leia o obtuário escrito pelo próprio em 6 de setembro de 2014".
Meus agradecimentos à Clarice pela informação.
Fui induzido a erro por este comentário de Hamber Carvalho em seu perfil do Facebook antes da publicação do obituário: "Antes de comentar sobre o falecimento de Isac Tillinger, leia o obtuário escrito pelo próprio em 6 de setembro de 2014".
Meus agradecimentos à Clarice pela informação.
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