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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Você quer entender como funciona o genocídio negro promovido pelo Estado?

Print de vídeo do G1 


 



Atuei pastoralmente muito tempo em Madureira, entre a Serrinha e o Cajueiro. Em Campo Grande. Morei em Maria da Graça. Convivi diariamente com a realidade do Jacaré e do Jacarezinho.

Primeiro: a desculpa de que bandidos estavam desalojando moradores é geralmente falsa. Os traficantes, via...de regra, são filhos das comunidades e não desalojam aqueles que os viram crescer. E como a mesma facção comanda o Jacarezinho há anos, não é plausível.

Segundo: toda vez que um governador assume, prova sua fidelidade permitindo uma chacina. Foi assim com Witzel...Está sendo assim com o desconhecido bolsonarista que está lá...(nota: cantor da RC, católico fervoroso).

Isso agrada aos policiais corruptos, pois viabiliza os seus negócios... Agrada o comando, que poderá ampliar a propina... e gera a ideia na população de que haverá menos bandidos porque o governador está deixando que a polícia os matem... E o governador só "lucra".

Terceiro: "que negócios", você me pergunta. Eu respondo: milícias, ou relações com facções parceiras - daí, as ações contra...territórios de facções adversárias, enfraquecendo-as e facilitando a mudança do comando no território.

É só mapear quais facções comandam cada bairro e você verá que uma é geralmente poupada, a outra é sufocada.

Quarto: entendem o que era excludente de ilicitude? Agrada o policial, que poderá matar sem nenhum risco. Agrada o policial corrupto, que poderá fazer as chacinas no horário de trabalho. Agrada a população, que não sabe dessa problemática... E cria base de apoio para o proponente.

Quinto: e por que matam 50, mas mandam 25 corpos. Porque para montar as cenas, com armas e drogas, é inviável fazer isso com todos os mortos. É muito comum o policial ter uma arma e uma quantidade de droga para plantar nas vítimas inocentes que tombam, porque ele conta... que no dia seguinte, ninguém mais cobrará nada sobre o esclarecimento da operação policial realizada.

Enfim: é genocídio da população pobre e preta. E a tevê não informa nada. O jornal não informa nada. As corregedorias não investigam nada. E a justiça não julga nada.

E a população local, assassinada, ferida, desalojada, que verá surgir uma milícia ali, ou a presença de uma facção rival, será humilhada por um longo tempo. Porque amanhã, as pessoas esquecem.

E para vocês terem uma ideia: tem imagens de execução sumária. Tem imagem de inocentes mortos. Os policiais invadiram casas e tomaram celulares. Mas já dizem que os 24 mortos eram bandidos e "apreenderam" 15 pistolas, 6 fuzis, 1 sub-metralhadora e uma munição antiaérea.

Peça para um especialista em armas, e que conhece os armamentos da facção, para verem se a foto representa a realidade de 24 bandidos armados mortos porque resistiram...”

Brian Kibuuka

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Tinha socialismo nisso?

Nuon Chea e  Khieu Samphan


Os dois velhinhos da foto acima são Nuon Chea, 92 anos, e Khieu Samphan, 87, os dois líderes mais importantes do Khmer Vermelho ainda vivos hoje. Nesta sexta-feira (16), o tribunal internacional do Camboja os condenou a prisão perpétua por genocídio e crimes contra a humanidade cometidos durante o regime comandado por POL POT (1975 a 1979). Muito embora o regime tenha sido breve, de apenas quatro anos, acredita-se que cerca de 1,7 milhão de pessoas morreram durante o brutal governo do Khmer Vermelho. 

Nuon Chea, "a mão direita de Pol Pot", foi considerado culpado de todas as acusações de genocídio dos vietnamitas, ex-funcionários da república do Khmer e da minoria muçulmana Cham. Khieu Samphan chefe de Estado da "Kampuchea Democrática"  foi considerado culpado do genocídio dos vietnamitas, mas foi inocentado do envolvimento no extermínio genocida da minoria muçulmana. 

Esta é a primeira vez que o tribunal internacional usa a palavra "genocídio" em referência a cerca de 1,7 milhão de mortos entre vietnamitas, integrantes da comunidade muçulmana cham e de outras minorias religiosas.

Os dois já haviam sido condenados à prisão perpétua em 2014 por "crimes contra a humanidade" pelo tribunal apoiado pela ONU para o Camboja, pena confirmada no julgamento da apelação em 2016. 

Os líderes cambojanos do Khmer Vermelho (da esquerda para a direita): Pol Pot, Noun Chea, Leng Sary, Son Sen e outros apoiadores retratados em Phnom Penh durante o regime do Khmer Vermelho, em 1975. Fotografia HENG SINITH  EPA

Todos esses crimes foram cometidos em nome do marxismo. Ou melhor, em nome de uma interpretação do marxismo feita por Mao Tsé-Tung, já que o Khmer Vermelho era um movimento maoista radical fundado por intelectuais educados na França. Durante os quatro anos violentos em que estiveram no poder, de 1975 a 1979, os Khmer Vermelhos torturaram e mataram todos os que se consideravam inimigos - intelectuais, minorias, ex-funcionários do governo - e suas famílias. A escala e brutalidade dos assassinatos - muitos deles meticulosamente documentados oficialmente - significa que o regime foi um dos mais sangrentos do século XX. 

O tribunal Internacional (Câmaras Extraordinárias nos Tribunais do Camboja -ECCC) foi formado em 1997, por meio de um esforço conjunto da ONU e dos tribunais cambojanos para julgar os membros “mais antigos” do Khmer Vermelho. Demorou nove anos (2006) para levar o primeiro caso a julgamento e, 12 anos (2009) e US $ 320 milhões depois, condenou apenas apenas três pessoas pelas atrocidades do regime do Khmer Vermelho. A maioria dos responsáveis ​​pelos assassinatos, incluindo Pol Pot, morreu antes que pudessem ser julgados.

Em 2010, condenou Kaing Guek Eav, também conhecido como Camarada Duch , que dirigiu o campo de concentração S-21 em Phnom Penh, onde pelo menos 14.000 pessoas foram torturadas e mortas. Ele está cumprindo uma sentença de prisão perpétua.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Khmer Vermelho, Ieng Sary, era co-réu com Khieu Samphan e Nuon Chea, mas faleceu (2013) antes de os juízes proferirem um veredicto no primeiro dos dois sub-julgamentos em 2014. Sua esposa Ieng Thirith, ministra de Assuntos Sociais do regime e a quarta co-réu, foi considerado mentalmente incapaz de ser julgada e morreu em 2015.

Embora haja casos contra três comandantes do Khmer Vermelho que ainda aguardam julgamento,  o primeiro-ministro cambojano Hun Sen  há muito vem mostrando sua oposição aos julgamentos, alegando risco de levar o Camboja à guerra civil.

O veredicto, lido pelo juiz Nil Nonn, fez um relato detalhado de algumas das ações mais horríveis realizadas pelo regime, concentrando-se particularmente na infame prisão e local de execução de segurança S-21, onde dezenas de milhares de pessoas foram mortas. Interrogações e execuções foram realizadas sob a instrução direta daqueles nos "altos escalões, incluindo Nuon Chea", que supervisionaram o S-21 por dois anos. Ele descreveu o terror do regime e falou de casamentos forçados em que os casais eram obrigados a ter filhos.

Além de serem alvo de execuções em massa, as vítimas de Cham disseram que foram proibidas de seguir sua religião e forçadas a comer carne de porco sob o regime.

"A câmara descobriu que os prisioneiros foram levados para salas de interrogatório, algemados e vendados, com as pernas acorrentadas durante o interrogatório", disse Nil Nonn, acrescentando que os métodos de interrogatório incluíam espancamentos com paus, pedras, fios elétricos, chicotes, choques elétricos e sufocação. de unhas dos pés e unhas. ”

Nem mesmo Nuon Chea aguentou ouvir a lista dos crimes do regime, que foi lida em detalhes pelo juiz. Pediu para ser dispensado do tribunal alegando problemas de saúde.

O julgamento também enfatizou que Khieu Samphan “encorajou, instigou e legitimou” as políticas criminais que levam à morte de civis “em grande escala”, incluindo milhões de pessoas forçadas a campos de trabalho para construir represas e pontes e o extermínio em massa de vietnamitas. Monges budistas foram excomungados.  

Quando o regime foi derrubado por dissidentes cambojanos e tropas vietnamitas em 1979, cerca de 25% da população do Camboja havia morrido. Pol Pot fugiu e permaneceu livre até 1997 - morreu um ano depois. Não foi julgado. 

Fontes: "bbc""theguardian" e "g1"

Meu comentário: 
Concordo com o filósofo e militante comunista Carlos Nelson Coutinho que o socialismo ou é democrático ou não é socialismo. O PC do B ainda vê hoje socialismo na China e em Cuba. Não sei se na Coreia do Norte também. Via socialismo no Camboja e na Albânia, que depois da queda do maoísmo na China, tornou-se o farol do socialismo pra eles. Mas ditadura de partido único, sem liberdades democráticas, sem liberdade de manifestação e expressão, não é socialismo nem aqui nem na China!

Nota de esclarecimento:
Desde que o blog existe, ele é alvo de ataques virtuais. Não sei precisar de onde eles vêm. Mas imagino. Muito provavelmente de setores políticos e sociais poderosos incomodados com as publicações que faço no blog, que tem como objetivo principal tentar contribuir para a mobilização, organização e conscientização dos moradores de Búzios na luta por uma Búzios melhor para todos. O último ataque foi feito no meu Whatsapp, no qual adicionaram 154 leitores do blog em um suposto grupo. Felizmente, com ajuda de um anti-vírus poderoso consegui barrar a tentativa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Líderes militares de Myanmar são acusados de genocídio pela ONU

Pelo menos 700.000 Rohingya fugiram de Mianmar no ano passado - grupos de direitos humanos dizem que milhares morreram. Foto: Reuters

Em relatório divulgado hoje (27), a ONU defende que as principais figuras militares de Mianmar sejam investigadas por genocídio no estado de Rakhine e crimes contra a humanidade em outras áreas do paísO relatório pede ainda que o caso seja encaminhado ao Tribunal Penal Internacional (TPI). 

O governo de Myanmar tem dito constantemente que suas operações visaram ameaças de guerrilheiros insurgentes. Mas o relatório diz que os crimes que documentou são "chocantes": "a necessidade militar nunca justificaria matar indiscriminadamente, estuprar mulheres, agredir crianças e queimar aldeias inteiras."

A Missão Internacional Independente das Nações Unidas para Mianmar foi criada em março de 2017 para investigar as alegações generalizadas de abusos dos direitos humanos no país, particularmente no estado de Rakhine. Os crimes documentados em Kachin, Shan e Rakhine incluem assassinato, prisão, tortura, estupro, escravidão sexual, perseguição e escravidão que, "indubitavelmente, equivalem aos crimes mais graves sob a lei internacional", diz o relatório.

Os Rohingya são uma das muitas minorias étnicas em Mianmar e compõem a maior porcentagem dos muçulmanos do país. O governo, no entanto, os vê como imigrantes ilegais do vizinho Bangladesh e lhes nega a cidadania. Os militares lançaram sua última repressão depois que militantes de Arsa atacaram postos policiais em agosto de 2017, matando vários policiais. A ONU já descreveu a ofensiva militar em Rakhine como um "exemplo clássico de limpeza étnica". Refugiados que fugiram da violência contaram histórias horríveis de violência sexual e tortura. 

De acordo com a organização médica Médicos Sem Fronteiras (MSF) pelo menos 6.700 Rohingya, incluindo 730 crianças menores de cinco anos, foram mortas no primeiro mês após o início da violência.

Fonte: "bbc"

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Somos todos Guarani-Kaiowás

foto de Anna Sharp.

Comentários:

  1. Participei de uma manifestação no último domingo, no Rio e filmei uma índia que vive na aldeia maracanã (ameaçada de sair de lá já que o Sr. governador que derrubar o prédio para construir "melhorias" para a copa de 2014) fazendo um discurso emocionado e esclarecedor. De início ela fala em tupi-guarani mas depois continua em português. Me levou e levou mais alguns lá às lágrimas. www.youtube.com/watch?v=h8HBMhNNHaw

    e um video da manifestação www.youtube.com/watch?v=pu7VNsbdhPY

    Se puder divulgar...

Carta da comunidade Guarani-Kaiowá


Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil

Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.

Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós.  Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.

Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.

Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para  jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.

Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.     

Atenciosamente, Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay

Fonte: ”blog articulação dos povos índigenas”


Guarani Kaiowá não são obrigados a deixar fazenda ocupada em Mato Grosso do Sul


Alex Rodrigues

Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os 170 índios guaranis kaiowás que há quase um ano ocupam parte de uma fazenda da cidade de Iguatemi, a cerca de 460 quilômetros da capital sul-matogrossense, Campo Grande, e cuja situação ganhou destaque nacional nos últimos dias não terão que deixar a área. A medida vale pelo menos até que a real situação da propriedade seja esclarecida ou que laudos antropológicos descartem se tratar, como afirmam os índios, de terra tradicional indígena.

Segundo a Justiça de Mato Grosso do Sul, diferentemente do que os índios, as organizações indigenistas e o próprio Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul chegaram a anunciar, a decisão do juiz federal Sergio Henrique Bonachela, da 1ª Vara Federal em Naviraí (MS), constitui liminar de manutenção de posse e não de reintegração da área ocupada por 100 adultos e 70 crianças guaranis kaiowás desde novembro de 2011.

A Agência Brasil entrou em contato com a Justiça Federal em Mato Grosso do Sul hoje (26) de manhã e continua aguardando uma posição oficial sobre o assunto.

O detalhe jurídico que passou despercebido por muitos pode parecer trivial, mas, na prática, significa que o oficial de Justiça encarregado de fazer cumprir a sentença vai limitar-se a notificar os índios de que o terreno pertence, até prova em contrário, aos proprietários da Fazenda Cambará. O objetivo de uma liminar de manutenção é apenas preservar a posse de quem já vinha ocupando a área até que a situação seja esclarecida. Mesmo assim, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o MPF ajuizaram recursos contra a decisão no dia 16 de outubro e aguardam o julgamento.

De acordo com o promotor da República Marco Antonio Delfino, foram os próprios responsáveis pela fazenda que solicitaram a manutenção de posse. A decisão do juiz federal, favorável ao pedido, foi dada no último dia 17 de setembro. Como não há representação da Justiça Federal em Iguatemi, a incumbência de notificar o grupo indígena foi repassada à Justiça Estadual, por meio de carta precatória. Legalmente, o prazo para que o oficial de Justiça local notifique todo o grupo termina no próximo dia 8.

Segundo o diretor do cartório do Fórum de Iguatemi, Marco Antonio Arce, o oficial de Justiça só não começou a notificar antes os guaranis kaiowás devido à repercussão que o assunto ganhou nos últimos dias por causa da interpretação de uma carta que lideranças indígenas tornaram pública.

No texto endereçado ao governo e à Justiça brasileira, os líderes indígenas falam na possibilidade de morte coletiva ao referir-se aos possíveis efeitos da decisão da Justiça Federal. Dizem que, após anos de luta, o grupo já perdeu a esperança de sobreviver dignamente e sem violência na região onde, segundo eles, estão enterrados seus antepassados. Por fim, informam, em tom de ameaça, que decidiram integralmente não sair com vida e nem mortos e pedem que, se for determinado que eles saiam da área, governo e Justiça enviem "vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar" os corpos.

Embora a palavra suicídio não seja empregada nenhuma vez, a interpretação de que o grupo estaria ameaçando se matar em sinal de protesto gerou uma onda de comoção que ganhou as redes sociais e chegou a ser noticiada por veículos de imprensa internacionais.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), embora, na carta, o grupo não tenha falado em suicídio, mas sim em morte coletiva no contexto da luta pela terra, a medida extrema tem sido recorrente entre os índios. A organização ligada à Igreja Católica afirma que a situação de confinamento em áreas exíguas, a falta de perspectivas, a violência aguda e a impossibilidade de retornarem às terras tradicionais a que estão sujeitos os vários grupos indígenas que vivem no estado levaram ao menos 555 índios a, isoladamente, tirar a própria vida entre os anos 2000 e 2011. Especificamente em relação aos guaranis kaiowás, o Cimi lembra que, embora já haja 43 mil deles espalhados por Mato Grosso do Sul, apenas oito terras indígenas foram homologadas para o grupo desde 1991.

De acordo com o Ministério Público Federal, até três meses antes de ocupar 2 dos 762 hectares da Fazenda Cambará, os 170 índios viviam acampados às margens de uma estrada vicinal, na mesma cidade. Na noite de 23 de agosto, o acampamento foi supostamente atacado por pistoleiros que, segundo os índios, atearam fogo nas barracas e feriram várias pessoas. O MPF tratou o episódio como genocídio e pediu à Polícia Federal que apurasse as denúncias. Ainda segundo o MPF, a área ocupada faz parte de uma reserva de mata nativa, que não pode ser explorada economicamente e está sendo estudada por antropólogos da Funai que, em breve, devem divulgar suas conclusões.

Edição: Graça Adjuto

Fonte: "agencia-brasil.jusbrasil.com.br/noticias"